A Nova Renascença Digital, o Movimento Artístico AI
A Evolução da expressão criativa na era da nova renascença digital
O emergente movimento artístico impulsionado pela inteligência artificial exibe uma magnitude de diversidade que tem me levado a refletir sobre o seu impacto nas próximas gerações e na cultura.
É importante reconhecer que nem toda arte digital é criada igualmente. Recentemente, deparei-me com a obra de uma artista que mescla sua expressão artística com AI. Eva Eller, cujo trabalho é intitulado "Digital Neo-Renaissance", me cativou imediatamente com essa denominação apropriada. Assim como no século XIV, vivemos atualmente um período de expansão cultural, artística e tecnológica sem precedentes.

É fácil ser engolido pelo rabbit hole dessas artes digitais. Dada a abundância de tipos e estilos, é natural sentir dificuldade em compreender e identificar o que está acontecendo. Por isso, existe o papel crucial dos curadores na seleção e elaboração daquilo que consideram notável.
Recentemente, a plataforma Foundation lançou uma nova funcionalidade chamada Worlds, na qual curadores selecionam artistas para exibir e vender suas obras, recebendo uma porcentagem das vendas como reconhecimento por sua contribuição.
As ferramentas de AI capacitam a mescla de estilos e criações de variações infinitas de qualquer conceito. Por exemplo, o artista Robinson St. George cria personagens surrealistas fascinantes, e seguem uma estética semelhante.
Arte com AI Não É Arte
Para os críticos que desconsideram as novas ferramentas como meios para novos fins artísticos, voltamos para a perguntas filosófica, afinal, o que é arte?
Will Durant escreve em seu livro The Story of Philosophy:
A criação artística, diz Aristóteles, surge do impulso formativo e do desejo de expressão emotiva. O objetivo da arte é representar não a aparência externa das coisas, mas sua importância interna; pois isso, e não a maneira externa e detalhada, é a sua realidade.
Arte é expressão criativa humana. Obviamente, agora a linha entre o que é humano ou máquina fica mais tênue. Fundamentalmente, a tecnologia proporciona novas possibilidades pelas quais é possível expressar sentimentos, consciência e tudo mais que a arte provoca. Essa simbiose entre inteligência humana e artificial vai dar origem a novas fronteiras artísticas e eu não acredito que a arte “tradicional” puramente humana vai perder sua importância, talvez pelo contrário. Ao meu ver, o fato que esse assunto é uma discussão indica que esse movimento está ameaçando algum sistema de crenças com ideias fechadas sobre o que a arte pode ser.
Os algoritmos potencializam a escala de combinações entre estilos de épocas e artistas diferentes. Por isso, outra crítica é: “AI rouba o estilo dos artistas, pois viola o consentimento quando usam suas artes no pool de dados que a máquina utilizou para chegar em determinado resultado.” Assim como toda criação humana utiliza referências, ninguém pede permissão para seguir um determinado estilo ou tendência. Exemplo clássico do Picasso tendo notoriamente fortes influências da arte Romana e Africana, humanos e máquinas se apoiam nos ombros dos gigantes que nos precederam.
Obviamente esse assunto é controverso e ainda não sabemos como isso será absorvido pela indústria da propaganda e as diversas vertentes no que se diz respeito a direitos autorais. Não existe resposta simples de como isso deverá ser tratado, entretanto, assim como a indústria de filmes e entretenimento não conseguiu parar os torrents, suspeito que o mesmo acontecerá nas artes visuais e gráficas.
A Nova Renascença Digital
À medida que mergulhamos nessa nova era da inteligência artificial, é importante reconhecer que estamos apenas arranhando a superfície do seu potencial artístico. As máquinas demonstram capacidade de mesclar e transcender limites, desafiando convenções e expandindo nossa compreensão sobre o próprio conceito de arte. Inevitavelmente, desencadearemos novas formas artísticas inimagináveis.
Assim como as tecnologias anteriores abriram caminhos inexplorados para a expressão artística, a AI está fazendo o mesmo. A fusão entre a inteligência humana e artificial está catalisando uma nova renascença, estimulando a criatividade e inovação resultando e uma mudança profunda na cultura.
No entanto, a arte puramente humana não perderá sua importância. A expressão da consciência individual humana continuará sendo apreciada e valorizada. As máquinas não substituirão a originalidade e a emoção que emanam das mentes e dos corações humanos, ao invés disso, abrirá novos caminhos para a exploração e a interação entre nós.

Pesquisando sobre o tópico, me deparei com o trabalho de um artista brasileiro, o Stoktal. Fiz algumas perguntas sobre seu processo criativo e esse nicho artístico impulsionado pelo AI.

Como você começou a fazer arte com AI? Já fazia algum tipo de arte antes e houve uma transição?
Eu sempre tive a arte e desenvolvimento da minha veia artística como um pilar central da minha formação como pessoa, mas nunca acompanhado de um estilo definido. Até mesmo para a definição daquilo que iria cursar ao nível superior, a liberdade artística do campo que escolheria pesou muito; quis me aprofundar em algo que me desse a capacidade de ser criativo, pois sob meu ponto de vista, tudo que for derivado da criatividade humana, é arte.
Acabou que escolhi estudar Design de Produto, aqui na PUC-Rio. Um curso, que a meu ver, nos apresenta a arte de uma forma bastante abrangente, desde a história da arte, até o estudo de novas técnicas e ferramentas.
No meu último período da faculdade, enquanto concluía meu TCC, tive a oportunidade de desenvolver em paralelo um projeto de crypto arte chamado CyberKidz Club, na rede Tezos. O projeto foi um sucesso, e um dos primeiros e únicos projetos de PFP de arte generativa a atingir o tão sonhado sold out.
Graças a este projeto, eu tive meu primeiro contato com AI através de membros/holders da nossa comunidade que eram artistas que utilizavam os primeiros modelos de A, principalmente o VQCLIP+GAN.
Em maio de 2022, precisando urgentemente desenvolver ideações básicas sobre conceitos que queria passar para a equipe do projeto CyberKidz, eu me deparei com o MidJourney, graças a um convite para o closed beta dos mesmos artistas de AI que eram ativos em nossa comunidade..
A facilidade em tornar minhas ideias em realidade foi o fator mais importante para eu implementar a geração de imagens de AI a minha principal ferramenta de trabalho, já que ela facilita demais o processo de ideação dos meus projetos. Mas foi o potencial artístico dessa ferramenta que mais me impressionou.
Comecei a gerar centenas de imagens por dia, num processo que me parecia extremamente terapêutico. Não tardou para que eu criasse um novo pseudônimo, Stotkal, onde eu compartilho das minhas criações todos os dias, ininterruptamente, desde Junho de 2022 até hoje.
Como é o seu processo de criação? Você começa explorando uma ideia e usa AI até chegar em um resultado? Se puderes comentar que ferramentas utiliza.
Devido à velocidade e facilidade de geração de imagens através do uso dos modelos de AI modernos, eu tendo a focar muito no desenvolvimento conceitual daquilo que estou desenvolvendo, pois é aí que inserimos o valor e o toque humano naquilo que muitas pessoas não considerariam arte.
Tendo o conceito bem estruturado, eu começo a esboçar os primeiros prompts para gerar minhas artes. A principal ferramenta é o Midjourney, que hoje é o modelo de AI mais avançado, apesar das suas limitações de uso devido a interface por discord. Eu também gosto de implementar no meu workflow as ferramentas de outpainting (processo de expansão de imagem) do Dall-e 2, e as de inpainting (processo de apagar porções da imagem e substituir por elementos novos) do Stable Diffusion. Tudo isso para chegar mais próximo possível do conceito definido;
Como tem sido sua experiência como artista nesse nicho, você sente que está expandindo e ganhando mais adeptos?
Tem sido uma experiência incrível. Pude criar uma nova fonte de renda, além de fazer vários novos amigos e contatos neste universo de cripto.
Sinto que estou em constante expansão e desenvolvimento, e que este nicho tem ainda muito a crescer, principalmente porque o onboarding pleno de AI em praticamente todas as ferramentas que utilizamos no dia dia já está em pleno vapor.
Você tem um estilo bem marcante e definido, existe uma série de prompts ou palavras que você sempre utiliza?
Tudo depende do conceito inicial, mas uma frase que nunca irá sair dos meus prompts é; in a pink and blue hue.
Cite 1-2 artistas que você mais curte o trabalho.
Sou muito fã do 0009 (@0_0_0_9), e da Anastasia (@we_are_chained1), pois ambos tem estilos muito característico e pela capacidade que cada um tem de evocar sentimentos profundos dentro de mim.
Algumas artes que encontrei durante a pesquisa para este texto.



